terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Artes híbridas - Panorama da arte tecnológica, de Lúcia Santaella

Há artes que são híbridas, como o teatro, a ópera ou a dança. Híbridas no contexto de misturarem linguagens e meios, compondo uma interconectado de sistemas de signos que se juntam para formar uma sintaxe integrada. As médias digitais, com as suas formas multimédia interactiva geram sentidos voláteis e polissémicos que envolvem a participação activa do utilizador. A convergência das médias diz respeito à ligação da imagem fotográfica com áudio digital, vídeo, gráficos, animação e outras espécies de dados interactivos. Sempre houve técnicas para produzir arte. A técnica define-se como saber fazer, referindo-se aos procedimentos. Até ao século XIX as artes eram produzidas artesanalmente, dependendo da habilidade manual do individuo. Enquanto a técnica é um saber fazer, cuja natureza intelectual se caracteriza por habilidades do indivíduo, a tecnologia inclui a técnica, mas avança além dela. Há tecnologia onde quer que um dispositivo, aparelho, ou máquina for capaz de encarnar, fora do corpo humano, um saber técnico, um conhecimento científico acerca de habilidades técnicas específicas. Nessa medida a arte tecnológica se dá quando o artista produz a sua obra através das mediação de dispositivos maquina, que materializam um conhecimento científico, isto é, que já têm uma certa inteligência corporificadas nelas mesmos. Desde as primeiras décadas do século XX, a fotografia e o cinema experimental afirmavam-se como novas formas de arte. Quando surge um meio de produção de linguagem e de comunicação observa-se uma interessante transição. Primeiro o novo meio provoca um impacto sobre as formas e meios mais antigos. Num segundo momento. O meio e as linguagens podem nascer dentro delas são tomadas pelos artistas como objecto de experimentação. Assim aconteceu com a rádio e pouco tempo depois com a televisão. Forma os primeiros meios de informação e comunicação em massa, capaz de atingir remotamente milhões de pessoas e um só tempo. No início do século XXI foi marcado pelo surgimento do equipamento portátil de vídeo e de novas maneiras de extrair linguagens do vídeo começaram a ser exploradas pelos artistas. Com isto abriram-se portas para a videoarte. Ao adoptar tecnologias de ponta e aplicar modelos matemáticos e científicos da teoria da informação e estruturalismo, engenheiros e artistas tentavam revelar o potencial criativo que se escondia por trás dessas tecnologias. Os artistas tecnológicos da época eram construtores de sistemas e ao mesmo tempo criadores dos seus próprios trabalhos de arte. Assim se deu por iniciado o processo cada vez mais crescente, de hibridização das artes e da convivência do múltiplo e do diverso, ampliando a diversidade semiótica das artes. A partir dos anos 90 estamos assistindo a uma revolução digital. O que está em causa não é somente a conversão de qualquer linguagem, texto, som, imagem e vídeo, em formato digital, em bits, mas a compressão desses dados que permite compactar a informação com economia de meios. Está também implicada a possibilidade da informação viajar através do planeta em fracções de segundos, formando redes de terminais de computadores localizados em qualquer canto do mundo. Na arte interactiva, não se trata apenas do artista que cria ambientes de interacção, de colaboração, de imersão para o utilizador. Trata-se também da complexidade e da diversidade tecnológica que resultam da hibridização dos meios para produzir arte. Surgem performances interactivas que utilizam webcams ou recorrem a sensores. Permitem a interacção de cenários virtuais com corpos presenciais e outras interacções que a imaginação do artista consegue arrancar dos dispositivos tecnológicos. Por vezes utilizam ligações à internet.

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